É possível sentir saudades do que não vivemos? Para Manu Gavassi, sim. A voz da platina brasileira “Deve ser horrível dormir sem mim” canta hoje sua independência artística de forma criativa e simplificada: depois de deletar todas as suas fotos do Instagram e no dia seguinte mudar seu nome de perfil, dando vida à Malu Gabatti (uma roteirista e diretora), e de ter mudado também a cor do cabelo ela volta a se dispor musicalmente, sob uma mesa já conhecida, junto de seu antigo companheiro de trabalho e produtor Lucas Silveira (vocalista e fundador da banda Fresno) a compartilhar dos mesmos sentidos e melancolias, sendo uma dessas a saudade de não poder ter vivido seu auge musical, profissional e artístico intensamente — “Pessoas de máscara sorriem pra mim”, ela desaba.
Seu poder como diretora criativa de três rolos compressores corporativos comprova sua sensação de realização, e não obstante, seu retorno do terceiro lugar do Big Brother Brasil 20 com a própria faixa-irmã de “Deve ser horrível…”, “Eu nunca fui tão sozinha assim” marca também o fim das gravações da série nacional da qual fez parte, Maldivas, que irá ao ar em 2022 pela Netflix, reforçando os fatos e tornando Manu uma criatura mística, quase mítica em uma sociedade patriarcal: a ascensão e sucesso de uma artista jovem e de personalidade forte. “Eu me sinto diferente e bem mais corajosa. Eu me sinto como um daqueles senhores veteranos de guerra. Sabe aqueles senhores de filmes americanos? Aqueles que mostram a cicatriz que têm da guerra? Então, eu me sinto assim com BBB”, comenta a exímia compositora.
“Eu nunca…” carrega o DNA de outros virais lofi e beroom pop, como qualquer faixa do gênero, e o curioso é a noção de delay que criou-se da cultura pop americana, sobre como as canções e tendências dos anos passados sobrevivem ao tempo com um novo endereço, de maneira quase que premeditada. O ponto alto da música é, tanto sua produção quanto a química grandiosa que o produtor cria com Voyou e a ex-BBB, e principalmente sua composição — “Estranho não lembrar seu rosto e te querer”, “Estranhos me conhecem muito mais que você” — fazendo clara alusão à sua participação impecável no reality e, quiçá, aos pensamentos um tanto emo do parceiro constante Lucas Silveira: “Às vezes fico com saudade de momentos que eu ainda não vivi. Crio diálogos que nunca vão se cumprir. Às vezes peco na vontade de abraços que eu ainda não senti.”
Manu é um juggernaut. O que pareceu um dia ser um fiasco em sua trajetória musical, hoje desabrocha em frutos sólidos, controle do próprio trabalho e expertise em tomar as decisões certas para finalmente prosperar. Sua fórmula de fazer um detox de redes sociais, se esquivar de um possível backlash (Manu vs Prior) e cuidar da sua própria saúde emocional tem visivelmente valido a pena para ela. Sua mente trabalha de maneira única, de forma disciplinada e cuidadosa, seja no estúdio compondo mais uma faixa a ser lembrada por anos ou num reality que pode acabar com a sua carreira.
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