Quem não conhece Juliette? Seria uma completa perda de tempo fazer uma introdução prolixa sobre a protegida mais recente de Anitta, sabendo que a grande maioria dos brasileiros já ouviram falar sobre ela e seu EP de mesmo nome. A advogada e maquiadora, agora cantora, que parou o Brasil com seu charme e senso de justiça, é principalmente a ex-participante mais seguida nas redes sociais (e vencedora da edição) do reality show mais comentado do país, tal que já foi sondada por gruviões como Wesley Safadão e Luan Santana: seu nome está em todos os lugares.
Apesar de sua onipresença, Juliette não seguiu um script convencional ao deixar a casa mais vigiada das terras tupiniquins. Mesmo tendo morado por muito tempo numa espécie de abatedouro sexual, sua postura permanece mansa e tímida nesse projeto. Musicalmente, o que foi uma vez um grande sonho, revela-se um estudo em disciplina, seja no forró, na bachata ou num ritmo mais contemporâneo, a iniciante toma seu fôlego, dedica tempo e imagem para desenvolver a obra, quiçá, mais importante de sua vida.
Em “Diferença Mara” a cantora pontua as polaridades de um relacionamento à distância no melhor estilo Fátima Bernardes e Túlio Gadelha; “ele vem de bicicleta, eu que nunca fui atleta” pode parecer bobo e vil, mas soa verdadeiro. A produção de Rafinha RSQ (Modo Turbo, Loka, Tá Tum Tum) e a base vocal da intérprete de Girl From Rio, elevam o disco ao nível de grandes forrozeiros. A faixa seguinte é também a melhor do ato, “Doce” (não o 22), é onde a nordestina se despe em simplicidade —“nem o doce de batata doce tem seu doce mel”. A cada verso Juliette faz alusões aos jogos mentais de um romance, que entre represálias cheias de simpatia e frases de efeito conhecidas, promete nos levar pro céu através de doces lábios, que é onde seu timbre recosta mentalmente, nos raros momentos onde o nervosismo aparente se esvai. “Sei Lá” poderia muito bem ser uma faixa do grupo Melim, ou alguma faixa-trabalho da cantora e atriz Larissa Manoela, mas é com a coragem de uma iniciante que ela toma a canção pra si mesma, encaixa a letra na melodia que mal comporta tantas palavras e rasga sua sutil voz grave no início de cada verso. De grosso modo, toda a premeditação e a aposta sob o autointitulado deixam a mesma sensação de clima semiárido, no qual Juliette é enterrada com tanto aparato: temperaturas elevadas e pouca chuva, quase nenhum contraste, tudo é muito doce e guenzo, sempre.
Talvez o primeiro registro musical da milionária não tenha uma mensagem marcante, e nem uma personalidade acentuada que justifique o replay value para além de seus cactos, mas é um começo. Por mais que tantas alegorias e metáforas deixem um gosto clínico em nossa experiência ouvindo o EP, o trabalho foi sumariamente bem feito. Sua voz não é o ponto alto do conjunto, e nem as composições são exatamente deslumbrantes e memoráveis, mas talvez esse seja o preço a se pagar quando seu nome vem antes de seus feitos, e seus projetos antes de sua aprovação. Tiram-se as produções caras, a equipe talentosa de compositores e artistas a nível global envolvidos, a grande agenda de divulgação, a capa da Vogue e todo glamour envolvido, em algum canto do estúdio estará lá, nada mais nada menos que Juliette.
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