A falta de artisticidade pode ser um dos piores sentimentos para um artista. A sensação persistente e martelante de que você não tem mais nada a oferecer deve ser destrutiva, assim como o feedback ruim dos fãs. Em nossa última review da Anitta (Loco), terminamos a crítica com uma pergunta proferida pela cantora IZA: "Um artista sem identidade não é artista. Sem identidade, como fica minha mensagem?"
Nesta review, deixamos claro que Anitta respondeu à questão. O rejuvenescimento artístico da cantora é prazeroso, a funkeira tomou uma desintoxicação musical e passou as últimas semanas nos transportando de volta aos anos em que foi profundamente comprometida com um trabalho sonoro, fazendo uma série de posts enaltecendo "Garotas Do Rio" e apresentando um pouco da cidade maravilhosa para o mundo.
Chegamos a “Girl From Rio”, uma música que nos fornece uma serotonina de verão em meio ao outono. A canção é carregada de influências ramificadas em diferentes emoções, chamando a atenção do ouvinte para experiências reais que são contadas como um arquivo pessoal. Anitta se distanciou de um dogma estereotipado e trabalhou tanto o clipe quanto a música sob uma visão real através de uma lente pessoal e única, ela basicamente usou a especificidade para seu benefício.
A sonoridade da canção é o ponto forte! Em seu single mais importante dos últimos anos Anitta investiu em experimentação, mas não se escondeu atrás de experimentações desnecessárias como vinha fazendo. O símbolo da união do continente combinou o som analógico e vintage do 'bossa nova' com o 'trap' comercial, revitalizando o som clássico do gênero boêmio e o transformado em algo completamente fresco e moderno para os ouvidos. É totalmente plausível dizer que as batidas de trap casaram perfeitamente com o famoso sample de "Garota de Ipanema", uma mistura interessante que deu certo - é uma raridade ouvir várias influências coexistindo em tal harmonia.
O lirismo não é memorável, não é exatamente algo que nunca ouvimos antes ou que choque, mas as letras parecem mais reais e interessantes que outros êxitos da cantora, acredito que ela recuperou o espírito boêmio e poeta de gênios do gênero que fazem música não com metáforas, mas com experiências de vida. Anitta fala sobre seu novo irmão, sobre corpos "comuns" e sobre um Rio diferente do exportado, agregando um repertório à canção. Vocalmente a cantora não está tentando ostentar técnicas, sua verdadeira prioridade é responder àqueles que querem saber sobre sua vida e país.
As únicas queixas que realmente me encontro tendo com esta canção é sobre o apelo melódico que torna os riffs exageradamente repetitivos e com um ritmo nada propulsivo. Todavia a música se encaixa lindamente no conceito que a cantora queria passar, a singularidade da faixa faz a carioca trilhar seu caminho entre as versões estereotipadas do Rio e a versão real de uma forma muito natural e com descrições interessantes. O arranjo de apoio e a utilização do sample de "Garota de Ipanema" foi brilhante e emocionante, precisamos ouvir vozes brasileiras lá fora, e a garota do Rio é felizmente essa voz para muitos, devemos valorizar isso.
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