“Born Pink”, novo álbum dos rolo compressores do K-pop, BLACKPINK, marca o retorno de Jennie, Lisa, Rosé e Jisoo às paradas musicais, estreando diretamente no topo da Billboard 200. Não obstante, as primeiras cantoras sul-coreanas a se apresentar no famoso festival estadunidense Coachella, também alcançaram o pico do Spotify global com o single “Pink Venom” que abre o nascimento cor-de-rosa: “BLACKPINK, BLACKPINK” —as quatro meditam nos primeiros segundos do disco.
Apesar dos grandes feitos, musicalmente falando, “Pink Venom” repete a fórmula já conhecida em um tom cor-de-rosa bem saturado. Já é de senso comum que a sonoridade do girlgroup tem travado uma guerra com sua própria identidade, mesmo quando elas evitam falar sobre assuntos mais libertadores. Nessa e nas faixas seguintes encontramos onomatopeias soltas, frases sobre rebeldia, dominação, retomada de controle, ostentações, alguns narcisismos bobos depois e Teddy Park, o produtor musical de longa data, parece cansado e sem inspiração na maior parte do tempo, em faixas que já não duram muito mais que dois minutos em média, é um tanto desconcertante.
No ponto mais alto da produção do disco, o sucesso massivo de 39 milhões de streams “Shut Down”, existe certo brilhantismo. Se em 1826 perguntassem ao maior violonista da história, Niccolò Paganini, se ele um dia imaginaria que uma de suas obras-primas seria remixada em uma música trap, de um dos maiores grupos femininos de pop coreano (senão o maior) no ano de 2022, muito provavelmente ele responderia “loucura!”, mas a catarse não é tão grandiosa quanto poderia ser. Da mesma forma que tem se tornado comum grupos assim contarem com samples de música clássica, num choque mágico de culturas sugestivamente enriquecedor, liricamente, Jennie diz estar a 205 milhas por hora (329km/h) mas não convence, não engata.
A linguagem simples do álbum, às vezes mercadológica, fazendo alusão sempre à guerra, poder, amor não correspondido, controle, denunciam os reais interesses dos agentes dos juggernauts do pop, que claramente não é mais artístico que lucrativo, não é mais sensível que algorítmico, vira linha de produção. O padrão é claro porque elas dizem as palavras “mesma velha história”, “não sou uma santa”, “CELINE”, “coco” (Chanel) mais vezes do que se pode contar, e “fuck”, o novo palavrão aprendido, compõe esse novo molde, aparece aqui e ali, sem apresentar nenhuma variedade nem mesmo com palavras de baixo calão. Da mesma forma que as bravatas, os conceitos também se repetem: o tanque-de-guerra-globo-de-espelhos retorna de uma garagem cínica da YG Entertainment, empresa responsável pelo agenciamento das divas, e o que era para ser uma homenagem aos videoclipes nada antigos vira uma evidência de que as coisas estão sendo recicladas muito antes do que deveriam.
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