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Estudo mostra que COVID-19 pode ser detectado em lágrimas com uso de swab

Grupo da FCM-Unicamp acompanhou 83 pacientes internados no Hospital de Clínicas da cidade; trabalho recebeu apoio da FAPESP

23/01/2023 às 09h15
Por: Redação Fonte: Secom Estado de São Paulo
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Foto: Reprodução/Secom Estado de São Paulo
Foto: Reprodução/Secom Estado de São Paulo

Pesquisa liderada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que o vírus da COVID-19 pode ser detectado em lágrimas por meio de testes com swab, haste flexível com algodão na ponta usada na coleta de material para exames.

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Ao analisar amostras de pacientes internados no Hospital das Clínicas de Bauru (SP) com diagnóstico da doença confirmado por métodos convencionais, os pesquisadores detectaram o SARS-CoV-2 na superfície ocular utilizando esse tipo de teste em 18,2% dos casos. O resultado indica uma alternativa ao swab nasal e oral, que causa desconforto no nariz e na garganta, e sinaliza a necessidade de medidas de proteção para os profissionais de saúde já que, apesar de baixo, há risco de transmissão do vírus pela lágrima.

Além disso, a combinação de dois fatores – mais comorbidades e maior taxa de mortalidade – entre pacientes com teste positivo na lágrima sugere que a detecção viral pode auxiliar no prognóstico da doença.

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Os resultados foram publicados em artigo no Journal of Clinical Medicine.

“No início da pesquisa, pensamos em buscar um método de diagnóstico fácil, com a coleta de material sem tanto incômodo para os pacientes. O swab nasal, além de provocar desconforto, nem sempre é usado da maneira correta. Para pessoas com desvio de septo nasal, por exemplo, pode ser um problema. Achávamos que a lágrima seria mais fácil de executar, mais tolerável. Conseguimos mostrar que é um caminho. Uma limitação nesse estudo é que não sabemos se a quantidade de lágrima coletada influencia na positividade ou não”, afirma o autor correspondente do artigo, o professor Luiz Fernando Manzoni Lourençone, da Faculdade de Odontologia de Bauru e do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, ambos da USP.

Segundo o pesquisador, é possível inferir que a probabilidade de detectar o vírus em amostras lacrimais é maior em pacientes com carga viral alta, que pode levar a um quadro de viremia disseminada por diversos fluidos corporais.

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O trabalho recebeu apoio da FAPESP por meio de Bolsa de Iniciação Científica concedida a Luís Expedito Sabage, aluno de graduação, orientando de Lourençone.

Técnica

De 61 pacientes internados, foram analisadas amostras de 33 deles com diagnóstico de COVID-19 e de outros 14 sem o vírus, obtidas durante o primeiro semestre de 2021, quando as principais variantes que circulavam no Estado de São Paulo eram a gama e a delta.

Os cientistas utilizaram duas formas para coletar as lágrimas – o swab conjuntival e as tiras de Schirmer (exame para avaliar se o olho produz quantidade suficiente de lágrimas). As avaliações foram realizadas entre julho e novembro do mesmo ano.

Do total, o SARS-CoV-2 foi detectado em 18,2% das amostras coletadas por swab e em 12,1% das obtidas por meio de tiras de Schirmer. Por outro lado, como esperado, nenhum dos pacientes negativos para COVID-19 em exames feitos com swab nasofaríngeo teve amostra de lágrima positiva.

Para avaliar as comorbidades, o grupo adotou o Índice de Comorbidade de Charlson (ICC), composto por 20 fatores e desenvolvido como forma de padronizar e ajustar indicadores de risco, discriminando o prognóstico de um paciente em termos da mortalidade no período de até um ano.

Segundo a pesquisa, os indivíduos cujas lágrimas testaram positivo para o SARS-CoV-2 tiveram ICC inferior em relação ao restante (apontando maior probabilidade de óbito em dez anos) e taxas de mortalidade mais altas.

Independentemente do diagnóstico de COVID-19, a maioria dos indivíduos apresentou baixa produção lacrimal e desconforto ocular, indicando a necessidade do uso de lágrima artificial durante a internação.

Além de dados demográficos, clínicos e de sintomas oculares, os cientistas trabalharam com análises de RT-qPCR (sigla em inglês para Reação em Cadeia de Polimerase de Transcrição Reversa). O método requer a extração do material genético; um processo de transcrição do RNA em DNA e, por fim, a multiplicação do DNA. Considerado padrão-ouro para diagnóstico da COVID-19 e amplamente usado em vários laboratórios pelo mundo, o exame é capaz de detectar a presença de até mesmo uma única cópia do material genético do vírus na amostra.

Ao contrário de estudos anteriores, em que genes virais (N e RdRp) não foram considerados nas análises de RT-qPCR, nesse caso a pesquisa identificou diferentes partes do vírus, resultando em uma melhor taxa de detecção.

Em julho de 2021, foi publicado o resultado do trabalho de um grupo da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (FCM-Unicamp) que acompanhou 83 pacientes internados no Hospital de Clínicas da cidade, dos quais 8,43% tiveram amostras de lágrimas ou da superfície ocular positiva para a doença.

“Quando começamos, no início de 2021, não tínhamos tecnologia para fazer o cruzamento de alguns tipos de dados, saindo da ciência básica para a prática clínica. Nesse intervalo, o Sabage fez um estágio no Byers Eye Institute, do Departamento de Oftalmologia da Universidade Stanford [Estados Unidos], uma referência em estudos de fluidos oculares complexos. Com a tecnologia de lá, foi possível fazer vários pareamentos e constatar a presença de SARS-CoV-2 em lágrimas das nossas amostras. A associação com outra equipe trouxe resultados para nosso campus e abriu uma nova linha de pesquisa”, completa Lourençone à Agência FAPESP.

O estágio em Stanford recebeu apoio da FAPESP.

Possibilidades

Agora, o grupo de pesquisadores iniciou uma nova linha com foco na detecção de doenças por meio de testes e exames ligados aos olhos. O objetivo é trabalhar com outros tipos de vírus, além do SARS-CoV-2.

“Existem outros vírus ainda pouco estudados no Brasil. Pretendemos nos dedicar a encontrar soluções e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Vamos analisar também outras condições virais que se tornam sistêmicas”, diz o professor.

O artigo Conjunctival Swabs Reveal Higher Detection Rate Compared to Schirmer Strips for SARS-CoV-2 RNA Detection in Tears of Hospitalized COVID-19 Patients pode ser lido em: www.mdpi.com/2077-0383/11/23/6929.

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